Entrevista com Alastair Fuad-Luke
Por GINA LOVETT, EDITORA DO DESIGN FOOTPRINT
Tradução: MARCIO DUPONT

Alastair Fuad-Luke é um designer de origem inglesa, palestrante e facilitador no tema do design e sua relação com a sustentabilidade. É também conhecido internacionalmente como designer-ativista, líder do movimento ?Design para a Sustentabilidade? dirigido aos diferentes setores da sociedade – empreendedores sociais, design educadores, serviços e setores da indústria de transformação. Autor dos livros Design Activism, The Eco-Travel Handbook e The Eco-Design Handbook.
Na seguinte entrevista, feita para a editora da publicação inglesa Design Footprint, Gina Lovett, Alastair Fuad-Luke fala sobre o co-design loop e a sua viagem ao Brasil para o Abril com idds 2010:
Alastair, conte-nos um pouco sobre sua experiência e como você ficou interessado em co-design?
Co-design, ou design colaborativo, é parte de um amplo diálogo sobre ?Design-Projetando para a Sustentabilidade? (DfS) no qual eu tenho estado comprometido nos últimos 13 anos como educador, facilitador, consultor e escritor.
Eu comecei escrevendo sobre co-design em 2006 [veja, por exemplo, no meu capítulo Chapman & Gant (2007) Designers, Visionaries & Other Stories, Londres, Earthscan] e passei a desenvolver, então, métodos para os meus workshops, para reunir pessoas mesmo antes de ter um objetivo de design definido para questionar um projeto já existente ou oferecer soluções conjuntas.
O que é exatamente co-design?
Co-design é uma abordagem para ?o pensamento projetual do design, sua realização e gestão?, que reúne os diferentes atores para compartilharem as suas experiências e conhecimentos para melhor compreender os problemas ligados entre si (a problemática), a fim de criar soluções projetuais que possam se autosustentar mais tempo e que também nutram nosso ambiente e nossas economias. Co-design re-conecta o que foi desconectado por nossos sistemas contemporâneos.
O que torna co-design adequado para atingir a sustentabilidade?
Ao incluir um leque maior de pessoas e organizações no processo de concepção, o co-design encoraja uma maior participação nas decisões chaves do processo de design e, portanto, traz uma ?inteligência coletiva? ao ato de projetar. Algumas caracteristicas do co-design são:
– Utilização obrigatória atual e futura dos recursos (a utilização de recursos é uma das questões críticas do presente);
encoraja um pensamento mais sistêmico, revela os efeitos em cadeia das nossas decisões na etapa projetual;
encoraja as pessoas a serem participantes ativos e fornecedores de soluções sustentáveis (em vez de apenas consumidores passivos ou fabricantes inconscientes);
reconecta as pessoas para aspectos fundamentais e importantes da transição à sustentabilidade como equidade e distribuição de recursos, os impactos distantes dos ?modos ocidentais de consumo?;
revela novas formas e possibilidades de fazer as coisas de maneira diferente, como a criação de novos modelos de emprendimento;
incentiva as pessoas a acreditar que podem tornar-se cidadãos ativos e profissionais gerando soluções que se auto-sustentam e se autoregeneram.
Você tem usado o co-design em uma série de workshops em todo o Reino Unido para ajudar a aumentar as habilidades para perceber novas oportunidades eco-econômicas durante uma recessão. Qual foi o resultado disso?
Aqueles participantes nos meus workshops de co-design são, em certa medida, ?auto-selecionáveis? ou seja, eles já estavam interessados em como projetamos necessidades para uma mudança positiva para nós tornarmos mais eficazes nos aspectos ecológicos, social e econômico para gerar um arranjo de soluções sustentáveis confiaveis, genuínas.
Os participantes dos workshops vêm de todas as partes da comunidade de design – academia, indústria, emprendimentos sociais e órgãos do governo – mas eu acho que a maioria tinha um interesse comum em ?pesquisas no campo do design? e questões como, ?Para onde o Design seguirá??
O resultado mais significativo que eu vi dos participantes dos workshops é a alegria de trabalhar em conjunto usando a abordagem de co-design e as visões, percepções genuínas que essa abordagem fornece para novos conceitos empreendedores.
Co-design também parece construir ou fortalecer o sentimento de confiança, um ingrediente essencial para impulsionar qualquer mudança real. Estou absolutamente certo de que algumas ?Sementes Conceituais? que criamos nos workshops serão lançadas brevemente como novas empresas.
Emergir de uma enorme recessão econômica e fiscal significa fazer as coisas de forma diferente ou fazer as mesmas coisas que já fazemos de uma maneira muito melhor. Então, eu tenho certeza que todos aqueles que assistiram aos workshops de co-design agora podem perceber e visualizar as novas oportunidades que surgem da recessão.
Seguindo este pensamento, o que você está esperando da visita ao Brasil e trabalhando de perto com o idds?
Minha conversa contínua com o idds no Brasil tem sido de co-design (projetar colaborativamente) a minha ?visita?, a fim de obter o nível máximo de proveito com o tempo curto que estarei lá e de fazer com que a minha pegada de carbono gerada para estar em pessoa no Brasil seja a mínima possível.
Eu já informei ao idds que quero que o Brasil seja o país onde vou transformar o ?co-design loop? (atualmente protegido por diretos autorais) em um projeto de acesso aberto que pode ser usado para o bem comum de todos.
Assim, os workshops no Brasil serão destinadas à formação e treinamento de co-designers a utilizar o co-design loop e melhorar a sua própria acessibilidade, utilidade e o seus impactos sustentáveis no contexto brasileiro que podem alcançar indivíduos, comunidades e natureza.
Em suma, vamos estar co-redesenhando o co-design loop para que se torne ainda mais acessível, utilizável e impactante do que já e´.
Como e por que o conceito de co-design entraria na cultura e mentalidade brasileira?
Será minha primeira viagem ao Brasil, por isso vou ter que adivinhar na prática a resposta para esta pergunta!
Creio que a abordagem do co-design é muito oportuna neste momento para o Brasil e acho que o país será muito receptivo ao potencial dela.
Talvez eu possa me explicar melhor, usando o ?prisma de sustentabilidade ou tetraedro. Os quatro componentes em cada ponto do tetraedro são economia, social, ambiental e institucional, então aplicando o tetraedro ao Brasil, teríamos:
Economia –
Brasil é uma economia forte e emergente com uma quantidade incrível de recursos naturais, minerais e extensões de terras.
Ele saiu de uma recessão muito rapidamente, em comparação com as velhas economias da Europa. Como país emergente também pode definir o caminho a seguir em termos de novos modelos econômicos para o futuro.
Social –
O governo do Brasil é de centro-esquerda e por isso mantém uma dimensão social às suas atividades políticas.
Co-design em um dos seus níveis é também sobre eqüidade social e por isso acredito que vai se encaixar bem nas aspirações sociais, culturais locais.
Essa é também a razão principal pelo qual eu escolhi para fazer o co-design loop, um projeto de acesso aberto aos workshops que farei no Brasil, algo inédito no campo mundial do design. Estou convencido que o co-design e Brasil nasceram um para o outro.
Creio que o co-design pode desafiar a natureza insustentável dos modelos existentes e os tipos de empresas que contribuem para esses modelos.
Ambiental –
Se eu estivesse pensando em me mudar para um país com uma ?pegada ecológica? de menor impacto esse país seria o Brasil onde eu posso sentir-me seguro para os próximos 100 anos. O Brasil tem terra e recursos suficientes para alimentar, dinamizar e sustentar sua população atual por algum tempo no futuro.
Isto deve dar a confiança necessária para os brasileiros para co-projetar novas empresas que trabalharão em harmonia com a sociedade e a natureza. O Brasil também precisa manter a todo custo os ecosistemas estratégicos e fundamentais (como as florestas tropicais) para ajudar a atenuar os efeitos das mudanças climáticas globais.
Então o resto do mundo deve incentivar o Brasil a adotar novos modelos empresariais que não destruirão os recursos, mas que sim os alimentem.
Institucional –
Tenho a sensação de que as atividades da base da pirâmide são fortes na cultura brasileira e que as instituições com bases comunitárias provém sustento considerável à nível local. Espero, portanto, que a abordagem co-design possa ampliar e fortalecer os benefícios destas instituições existentes.
Estou muito ansioso para colaborar com o idds e aplicar o co-design loop na realidade brasileira e ver a futuro os beneficios de essa abordagem para um pais tão maravilhoso como o Brasil.

Co-design loop no Abril com idds 2010
Fuad-Luke participará do evento Abril com idds 2010, realizando uma série de workshops em torno de seu processo chamado co-design loop – um método de criação inclusivo, onde aspectos sociais, econômicos e ecológicos são tratados conjuntamente, gerando soluções comuns que atendem às necessidades de todos os interessados. O objetivo dessa metodologia é criar a sustentabilidade desde o início do processo e não apenas como resultado final, para assim responder a alguns dos mais prementes problemas da sociedade moderna.
O foco dos workshops de Alastair Fuak-Luke no Abril com idds 2010 será a transferência de conhecimento, de modo que os participantes sejam equipados para difundir a prática de co-design loop e suas ferramentas para usuários externos. E que esses usuários, por sua vez, possam transmitir esse conhecimento específico também em outro contexto.
Nos workshops haverá ênfase na utilização da linguagem, expressão e significado. Fuad-Luke vai mostrar como a linguagem correta pode diminuir ou enriquecer o processo criativo e a comunicação entre os diferentes setores divergentes. O trabalho será conduzido em inglês e português, para que os participantes do workshop possam aplicar esse processo criativo em seu próprio idioma e assim expressar-se livremente no seu contexto cultural.
Maiores informações sobre o evento
info@idds.com.br
http://www.idds.com.br